segunda-feira, 1 de março de 2010

NUM DIA QUALQUER

Therezinha de Jesus é como ela gosta de ser chamada hoje em dia mas houve época em que detestava, sobretudo quando seus amiguinhos assim que a viam iniciavam a famosa cantiga de roda:
_ “ Therezinha de Jesus ... De uma queda foi ao chão...”
Ir ao chão provocava nela um sentimento de impotência, mas logo se levantava sem a ajuda, que ela recusava, dos três cavalheiros, recompondo-se e empinando o nariz.
Atualmente aposentada, levanta-se quando o sol lhe diz que é hora de preparar seu café antes de ir ao encontro das atividades oferecidas pela UNIVERTI, que mais lhe agradam como : coral, teatro, alongamento, redação criativa e filosofia que de uma certa forma a mantêem ativa e ligada ao mundo que aí está diferente daquele que conheceu há sessenta anos atrás quando se tornou uma profissional dedicada à educação sempre atenta às mudanças, especialmente nessa área.
Embora nascida mulher predestinada a ter uma família com marido e filhos, dedicada ao bem estar de todos, não se contentava apenas com o papel de mulher submissa e mãe amorosa, achando que deveria crescer sempre nesses aspectos mas também como mulher atuante politicamente na medida em que pensa , reflete, critica, procura novos caminhos para a educação que só acontece em plena liberdade de escolha.
Quando alguém de Teresópolis lhe diz que não encontra nada de interessante para fazer nesta cidade, estranha ter sempre sua agenda sem horário livre para atender aos convites que lhe fazem a todo momento.

Em 22 de fevereiro de 2010 Redação Criativa - Prof.: Ana Araújo
Therezinha de Jesus de A Cunha

A Peixeira

Há uns três anos atrás, participei de uma excursão ao Nordeste e observei com entusiasmo , como se desenvolvera aquela regíão que conhecera cinquenta anos antes, nas férias de verão. Era um longo roteiro que começava no Espírito Santo e se estendia até o Ceará excetuado o Sergipe. Tal fato não me agradou por não ter conhecido Paulo Afonso no Velho Chico.
Em 1951, um ano depois do nascimento do meu primeiro e único afilhado fui convidada a permanecer em Boa Viagem , uma linda praia, quase selvagem, perto de Recife em Pernambuco, durante as férias de verão.
Havia uma pequena casa adequada a uma família que começava a existir. Boa Viagem nessa época, era uma praia deserta com apenas um prédio de quatro andares junto ao mar de onde se podia admirar os extensos arrecifes que separavam o mar alto das piscinas naturais e aquecidas antes deles. Não se falava em tubarão predador porque o homem ainda não o tinha afastado do seu “habitat”. Ouviam-se apenas comentários sobre nordestinos ou jagunços com suas peixeiras na cintura e que poderia ser enfiada na barriga do incauto que dele se aproximasse sem se fazer reconhecer.
Convidados a ir a um baile carnavalesco no clube da Aeronáutica, animado pelo frevo que fervia a noite inteira e só se acalmava ao amanhecer, voltamos tarde sem nos preocuparmos com a peixeira de algum jagunço desconhecido que pudesse atravessar o
longo percurso a vencer até a casa , no momento do nosso retorno. Meu irmão com sua arma de fogo, conversava conosco para nos acalmar. Vencemos os últimos metros a correr, esquecendo de trancar a porta do jardim,entrando em casa com o coração saltando do peito.
Meu irmão e minha cunhada foram logo ver o menino ,que dormia tranquilamente
no berço guardado pela babá. Fui para o quarto a mim destinado que dava para o jardim,joguei-me na cama e adormeci imediatamente, exausta.
Poucos minutos depois, despertei molhada de suor,ao ouvir passos no jardim. Chamei meu irmão que prontamente acorreu de arma em punho,dizendo-lhe assustada que havia alguém no jardim, mas que não tivera coragem de olhar pela janela para me certificar. Meu irmão escancarou a janela gritando:
_ Quem está aí? Apareça! senão passo fogo.
Qual não foi meu espanto, ao ouvir um pachorrento mugido ;
_ Muuuu......Muuuuuu......Muuuuuuuu............
Era uma vaca que aproveitara o portão aberto e pastava no pequeno jardim.

Teresópolis,03 de fevereiro de 2010.
Therezinha de Jesus de A.Cunha Redação Criativa - Prof. Ana Araujo