segunda-feira, 1 de março de 2010

A Peixeira

Há uns três anos atrás, participei de uma excursão ao Nordeste e observei com entusiasmo , como se desenvolvera aquela regíão que conhecera cinquenta anos antes, nas férias de verão. Era um longo roteiro que começava no Espírito Santo e se estendia até o Ceará excetuado o Sergipe. Tal fato não me agradou por não ter conhecido Paulo Afonso no Velho Chico.
Em 1951, um ano depois do nascimento do meu primeiro e único afilhado fui convidada a permanecer em Boa Viagem , uma linda praia, quase selvagem, perto de Recife em Pernambuco, durante as férias de verão.
Havia uma pequena casa adequada a uma família que começava a existir. Boa Viagem nessa época, era uma praia deserta com apenas um prédio de quatro andares junto ao mar de onde se podia admirar os extensos arrecifes que separavam o mar alto das piscinas naturais e aquecidas antes deles. Não se falava em tubarão predador porque o homem ainda não o tinha afastado do seu “habitat”. Ouviam-se apenas comentários sobre nordestinos ou jagunços com suas peixeiras na cintura e que poderia ser enfiada na barriga do incauto que dele se aproximasse sem se fazer reconhecer.
Convidados a ir a um baile carnavalesco no clube da Aeronáutica, animado pelo frevo que fervia a noite inteira e só se acalmava ao amanhecer, voltamos tarde sem nos preocuparmos com a peixeira de algum jagunço desconhecido que pudesse atravessar o
longo percurso a vencer até a casa , no momento do nosso retorno. Meu irmão com sua arma de fogo, conversava conosco para nos acalmar. Vencemos os últimos metros a correr, esquecendo de trancar a porta do jardim,entrando em casa com o coração saltando do peito.
Meu irmão e minha cunhada foram logo ver o menino ,que dormia tranquilamente
no berço guardado pela babá. Fui para o quarto a mim destinado que dava para o jardim,joguei-me na cama e adormeci imediatamente, exausta.
Poucos minutos depois, despertei molhada de suor,ao ouvir passos no jardim. Chamei meu irmão que prontamente acorreu de arma em punho,dizendo-lhe assustada que havia alguém no jardim, mas que não tivera coragem de olhar pela janela para me certificar. Meu irmão escancarou a janela gritando:
_ Quem está aí? Apareça! senão passo fogo.
Qual não foi meu espanto, ao ouvir um pachorrento mugido ;
_ Muuuu......Muuuuuu......Muuuuuuuu............
Era uma vaca que aproveitara o portão aberto e pastava no pequeno jardim.

Teresópolis,03 de fevereiro de 2010.
Therezinha de Jesus de A.Cunha Redação Criativa - Prof. Ana Araujo

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